O Retorno ao Mar: Quando Tudo Parecia Perdido
- Antonio Jorge Béze
- 19 de fev.
- 3 min de leitura
A madrugada ainda cobria o mar com um véu escuro quando Pedro lançou a rede pela centésima vez. As mãos calejadas seguravam a fibra grossa, mas o coração doía mais do que o esforço físico. Ele e os outros discípulos estavam ali, pescando, como faziam antes de tudo começar. Antes de Jesus ter mudado suas vidas. Antes de acreditarem que o mundo nunca mais seria o mesmo.
Mas agora… tudo parecia perdido.
Jesus havia morrido. Eles O tinham visto crucificado, e, embora houvesse rumores de que Ele havia ressuscitado, Pedro ainda carregava o peso da sua própria vergonha. O peso de tê-Lo negado. Três vezes.
O barco balançava suavemente na água fria. O silêncio dos companheiros dizia tudo. Tinham tentado pescar a noite toda. Nada. Nem um peixe sequer.
E então, enquanto o sol começava a romper a linha do horizonte, uma voz veio da praia:
— Filhos, tendes alguma coisa para comer?
Pedro olhou para os outros. Aquele homem estava falando com eles? João respondeu, sem ânimo:
— Não, nada.
A voz continuou, firme e serena:
— Lançai a rede à direita do barco e achareis.
Pedro sentiu um arrepio. Algo naquela voz mexia com seu coração. Ele lançou a rede mais uma vez, sem muita esperança, apenas para não ter que discutir. E então, num instante, a rede ficou pesada. Muito pesada. Eles puxaram com força, mas os peixes eram tantos que quase rasgaram as fibras.
Foi João quem percebeu primeiro. Com os olhos arregalados, sussurrou:
— É o Senhor!
Pedro não pensou duas vezes. Jogou-se no mar e nadou com toda a força até a margem. O coração pulsava, acelerado, mas não era o esforço físico que o fazia assim. Era outra coisa. Era a esperança, aquela que ele achava que nunca mais sentiria.
Ao chegar à praia, viu um fogo aceso. Brasas quentes e alguns peixes sendo preparados. E lá estava Ele.
Jesus.
Ele não precisou dizer nada. Apenas olhou para Pedro, com aquele olhar que via tudo. Que via as feridas, os erros, as negações. Mas que, acima de tudo, via o amor.
Os outros discípulos chegaram, arrastando a rede cheia. Jesus os convidou a se sentar e comer. Nenhum deles perguntou quem Ele era. Sabiam. No fundo de suas almas, sabiam que era Ele.
Enquanto comiam, Pedro mal conseguia olhar para Jesus. Mas então, o Mestre quebrou o silêncio:
— Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?
Pedro engoliu em seco. Seu coração disparou.
— Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
Jesus assentiu, e respondeu:
— Apascenta os meus cordeiros.
Pedro sentiu um nó na garganta. Mas então, Jesus perguntou novamente.
— Simão, filho de João, tu me amas?
Pedro piscou algumas vezes, sentindo o peso da pergunta. A dor da negação ainda era recente. Mas respondeu:
— Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
Jesus olhou nos olhos dele e disse:
— Pastoreia as minhas ovelhas.
O silêncio pairou. Mas então, pela terceira vez, Jesus perguntou:
— Simão, filho de João, tu me amas?
Pedro sentiu o peito apertar. Três vezes ele havia negado. Três vezes Jesus lhe perguntava. Não era coincidência. Mas Pedro não fugiu. Não tentou se justificar. Apenas respondeu com toda a verdade de seu coração ferido:
— Senhor, tu sabes todas as coisas. Tu sabes que eu te amo.
Jesus sorriu, e disse:
— Apascenta as minhas ovelhas.
Naquele momento, Pedro entendeu. Jesus não apenas o havia perdoado, mas o estava restaurando. Estava lhe dando uma nova missão. Não importava o passado, não importavam as falhas. O que importava era o que ele faria dali para frente.
Pedro havia voltado ao mar, voltado à antiga vida, porque pensava que a história havia acabado. Mas Jesus veio até ele para lembrá-lo de que não, a história não tinha terminado. Estava apenas começando.
Pedro não era mais apenas um pescador de peixes. Ele havia sido chamado para algo maior. E dessa vez, ele não olharia para trás.
Reflexão
Quantas vezes nos sentimos como Pedro? Perdidos, sem rumo, achando que falhamos tanto que não há mais volta? Mas Jesus não nos abandona. Ele nos encontra onde estamos – no meio do nosso mar particular, nos nossos fracassos, nas nossas redes vazias – e nos convida a tentar de novo.
Ele não nos define pelos nossos erros, mas pelo nosso propósito.
Seja qual for a situação que você esteja vivendo, lembre-se: o chamado de Deus para sua vida não terminou. Ele ainda tem planos para você. Ele ainda quer te restaurar.
Então, da próxima vez que sentir que tudo está perdido, lembre-se de Pedro. E lembre-se que Jesus ainda está na praia, te esperando, pronto para recomeçar a história.
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