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Quando Dois ou Três Não São Uma Igreja

Um chamado bíblico à compreensão profunda do Corpo de Cristo


Em tempos de desilusão institucional, feridas mal cuidadas e uma fé cada vez mais individualista, muitos cristãos têm recorrido à ideia de que “a igreja somos nós” — como se isso bastasse para viver a plenitude do Evangelho.


Outros defendem que reunir-se com alguns irmãos em casa, sem liderança, sem compromisso com uma igreja local, sem submissão mútua nem participação nas ordenanças, seria suficiente para substituir aquilo que a Bíblia chama de Igreja de Cristo.


Mas será que essa ideia se sustenta à luz da revelação das Escrituras?


Será que dois ou três reunidos em uma sala com a Bíblia aberta — ainda que com sinceridade — equivalem ao corpo vivo e orgânico de Cristo, como descrito em Atos e nas epístolas?


Vamos caminhar juntos pelas Escrituras, sem pressa, mas com profundidade.


1. O Erro Mais Comum: Mateus 18:20 Fora do Contexto


Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome,

ali estou no meio deles.”

(Mateus 18:20)


Este versículo tem sido usado como argumento para justificar que qualquer pequena reunião de cristãos é, automaticamente, uma igreja. Porém, este texto não está falando sobre reuniões de comunhão ou adoração, mas sobre disciplina eclesiástica.


O contexto imediato (Mateus 18:15-20) trata do processo de reconciliação entre irmãos e da autoridade da igreja para “ligar e desligar” (v.18). Ou seja, Jesus está legitimando a autoridade e decisão da igreja local quando esta age com justiça e em unidade com a Palavra, não redefinindo o que é a igreja. Como bem coloca o teólogo D.A. Carson, “trata-se de um pronunciamento sobre o funcionamento da igreja como corpo visível, não de um novo conceito eclesiológico baseado em número.


2. O Que É, de Fato, a Igreja?


O termo original usado no Novo Testamento é “ekklesia”, que significa “assembleia” ou “os chamados para fora”. A igreja, segundo as Escrituras, não é simplesmente um ajuntamento espontâneo de cristãos, mas um corpo ordenado, com líderes estabelecidos (Ef 4:11-13), com doutrina sólida (At 2:42), com ordenanças (1 Co 11) e missão definida (Mt 28:19-20).


A igreja local, portanto, é:


• Uma comunidade visível e organizada de crentes regenerados.


• Governada por líderes espirituais reconhecidos (pastores, presbíteros, diáconos).


• Comprometida com a pregação fiel da Palavra.


• Submissa às ordenanças do Senhor: Batismo e Ceia.


• Responsável pela disciplina espiritual, cuidado mútuo e crescimento conjunto.


John Stott, em sua teologia pastoral, afirma:


A igreja é a nova sociedade de Deus, chamada para exibir, por meio de sua comunhão e missão, a sabedoria e a glória do Senhor ao mundo e aos principados do mal.


3. O Corpo que Não Pode Ser Disperso (1 Coríntios 12)


Paulo dedica um capítulo inteiro para ensinar que a igreja é o corpo de Cristo, composto por muitos membros, com diferentes funções, mas inseparáveis entre si:


Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo… O olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti.”

(1 Coríntios 12:15,21)


Note: não há espaço aqui para independência espiritual. Isolar-se, ou substituir o corpo por uma célula familiar ou um grupo de amigos, é fragmentar aquilo que Deus uniu. Paulo afirma:


Vós sois corpo de Cristo, e individualmente, membros desse corpo.”

(1 Coríntios 12:27)


Um dedo fora da mão, um olho fora da face, não são apenas solitários — estão mortos. Fora do corpo, não há função, nem vida, nem direção.


4. Os Dons e a Missão só Têm Sentido no Corpo (Efésios 4)


Cristo não deu dons aos indivíduos para uso privado, mas para edificação do corpo:


E ele mesmo concedeu uns como apóstolos, outros como profetas, evangelistas, pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para edificação do corpo de Cristo.”

(Efésios 4:11-12)


Sem o corpo, os dons não têm para quem servir, nem como amadurecer. A vida cristã foi desenhada para acontecer em comunhão contínua, disciplinada e frutífera — o contrário disso é imaturidade.


5. Hebreus 10:24-25 — A Proibição do Isolamento


Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns, antes, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.”

(Hebreus 10:25)


Aqui está uma ordem clara e direta: não se afastem da congregação. A palavra “congregar” carrega a ideia de estar junto do povo, sob liderança, com propósito espiritual comum. A advertência é feita porque já havia cristãos tentando viver uma fé sem igreja — e isso era visto como um desvio grave.


Como alerta John MacArthur:


Ficar fora da igreja local é desobedecer a Deus. A igreja não é opcional para o cristão fiel — ela é essencial.”


6. O Perigo Real da Substituição


Grupos familiares, pequenos grupos, discipulados informais — todos esses são ferramentas poderosas quando submetidas à autoridade eclesiástica, e usadas como extensão da igreja local. Mas quando tentam substituir a igreja, tornam-se perigosas.


Sem liderança bíblica, sem doutrina sólida, sem prestação de contas, esses grupos são vulneráveis ao erro, ao orgulho espiritual, ao isolamento e à heresia.


Satanás adora crentes desconectados do Corpo. É neles que ele semeia confusão, rebeldia e falsa piedade.


Conclusão: Igreja não é Alternativa, é Projeto Divino


A igreja não é um plano B. É a noiva do Cordeiro (Ap 19:7), a coluna da verdade (1 Tm 3:15), o corpo de Cristo (1 Co 12:27), a assembleia dos santos (Hb 12:23).


Dois ou três reunidos em comunhão fazem parte da vida cristã — mas não são, por si só, a igreja. O plano de Deus inclui liderança, mutualidade, adoração coletiva, ensino sistemático e ordenanças praticadas em comunidade visível e comprometida.


Se você tem resistido à igreja por conta de feridas, escândalos ou frustrações, saiba: a resposta não é a fuga, é a restauração.


Deus continua operando em sua igreja. Pode haver imperfeições, mas ela é o lugar da habitação do Espírito e o laboratório da graça.



Existe contra-argumento bíblico válido para sustentar que grupos isolados de cristãos formem uma “igreja informal”?


Não!

Biblicamente e teologicamente, não há sustentação sólida para afirmar que um grupo isolado de cristãos (sem liderança reconhecida, sem submissão mútua, sem celebração das ordenanças, sem responsabilidade pastoral e missional) constitua uma igreja no sentido pleno e normativo das Escrituras.


Mas para responder de forma completa, vejamos:


1. Qual é o argumento mais usado por quem defende essa “igreja informal”?


Esses irmãos, com frequência, dizem algo como:


  • “A igreja não é o prédio, somos nós.” (Verdade, mas incompleta)

  • “Onde dois ou três estiverem reunidos, ali Jesus está.” (Mateus 18:20, já vimos o erro de contexto)

  • “A igreja primitiva se reunia em casas.” (Sim, mas com estrutura, liderança apostólica e ordenanças)


Eles tentam construir uma ideia de que qualquer reunião entre crentes, feita com sinceridade, equivale à igreja visível e funcional de Cristo. Essa visão é chamada por alguns estudiosos de eclesiologia informal ou espontaneísta — mas ela é frágil, parcial e perigosamente reducionista.


2. Onde está o problema desse entendimento?


A Bíblia não define igreja apenas como ajuntamento de crentes, mas como:


  • Corpo vivo com unidade funcional (1 Co 12)

  • Rebanho sob pastoreio legítimo (1 Pe 5:1-3)

  • Comunidade ordenada, com disciplina e sacramentos (1 Co 5, Mt 18, At 2)

  • Coluna e baluarte da verdade (1 Tm 3:15)

  • Ambiente de envio e autoridade espiritual (At 13:1-3; Hb 13:17)


Portanto, a igreja pode se reunir em casas, sim, mas o que a torna igreja não é o local, e sim:


  • A presença ordenadora de Cristo como Cabeça (Ef 1:22-23)

  • A liderança espiritual reconhecida e vocacionada (Ef 4:11-13)

  • A prática das ordenanças sob autoridade eclesiástica (1 Co 11, Mt 28:19-20)

  • A comunhão que não apenas compartilha, mas edifica e exorta (Hb 10:24-25)

  • A missão visível e responsável diante do mundo (Mt 28:18-20, At 1:8)


3. Há exceções em situações de perseguição?


Sim — em contextos extremos, como perseguição violenta ou ausência absoluta de igrejas organizadas, pequenos grupos podem se reunir como expressão inicial ou temporária da igreja.


Por exemplo:


  • Cristãos na China durante os anos mais severos do comunismo.

  • Crentes em regiões muçulmanas onde igrejas são proibidas por lei.

  • Missionários em regiões pioneiras, reunindo-se com novos convertidos.


Mas mesmo nesses casos, o objetivo final é sempre: formar uma igreja organizada, com liderança bíblica, discipulado, envio e ordenanças.


Nunca é um modelo idealizado de fé “sem igreja”. É uma etapa provisória, não um princípio normativo.


4. O que dizem estudiosos confiáveis sobre isso?


Augustus Nicodemus, em seu comentário pastoral, afirma:


A igreja neotestamentária é composta por crentes reunidos com propósito claro, sob liderança estabelecida, praticando os meios de graça e cumprindo a missão de Cristo. Qualquer coisa fora disso é comunhão cristã, mas não é a igreja local como descrita na Bíblia.”


Mark Dever, pastor batista e teólogo reformado, escreve:


O Novo Testamento assume que todo cristão fará parte de uma igreja local. Estar fora dela é estar fora do modelo bíblico.



Conclusão direta e pastoral


Não existe argumento bíblico consistente que sustente que pequenos grupos informais substituam ou equivalham à igreja local bíblica.


Eles podem ser comunhão, podem ser úteis como extensão da vida da igreja, podem até servir como ponto de partida para formação de uma igreja verdadeira — Mas não são, por si sós, a Igreja como descrita na Bíblia.

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